Certas coisas são consideradas paradigmas no Werther de Goethe: um divisor de águas do romantismo, a consagração do romance epistolar, as ideias fixas do Sturm und Drung, o anti-racionalismo e a exaltação da natureza. Também não quero dissertar aqui sobre a velha lenda, que por sinal verdadeira, que o romance aumentou o número de suicídios quando foi lançado. A proposta não é esta.
Vamos a sinopse: um romântico e idealista alemão, burguês como não deveria deixar de ser, se apaixona pela mulher de um conhecido. É uma paixão patológica que o faz concentrar todo seu ímpeto na imagem da adorada. No relacionamento com o casal, suas insinuações a princípio são tímidas porém com o passar do tempo tudo começa a ficar evidente. Na tragédia final, vai aqui o spoiler por que esta história está exaustivamente contada nos meios literários, o jovem Werther se mata em nome do seu sentimento, desculpem o clichê, avassalador.
De fato o Romantismo, como foi no século XIX, não tem mais lugar no mundo contemporâneo afinal a exaltação dos sentimentos em detrimento da razão acaba com qualquer pragmatismo. Não que a razão seja lá estas coisas mas alguém se matar hoje porque sua suposta pessoa amada não lhe deu bola beira a pieguice. Mas acontece, alguém poderá replicar. Sim, acontece, mas não com o tom que era no passado. Antigamente existia um vínculo místico entre o amor e o objeto amado e todo este vínculo era elaborado com regras claras, muitas vezes platônicas. Hoje os seres passionais estão mais matando o objeto amado do que se suicidando. Sintoma de uma sociedade individualista que não admite perder? Talvez, deixo esta questão para os sociólogos.
Portanto acredito que neste sentido o romance envelheceu, o próprio Quixote, uma obra anterior, acaba sendo mais perene do que este. O Quixote, grosso modo, se embasa em uma narrativa realista.
Portanto acredito que neste sentido o romance envelheceu, o próprio Quixote, uma obra anterior, acaba sendo mais perene do que este. O Quixote, grosso modo, se embasa em uma narrativa realista.
No entanto existe muito mais a se falar de Werther. Não temos só uma paixão, temos uma obsessão. Um sentimento análogo ao nosso capitão Ahab de Moby Dick, é evidente que guardada as devidas proporções. É que na verdade temos o ser em busca de uma completude. Ora se o ser, na sua força primordial, não possui o seu objeto que tanto deseja, tende a autodestruição. Com certeza este fato se espelha de certo modo na vida real. No romance, mimese por excelência, existe o exagero que torna a ficção sua razão de existir. Doce razão. Ademais, razão esta que nos faz viver outras existências. Porém, ainda bem, não temos Wetheres ou Ahabes andando por aí, pelo menos não freqüentemente.
Não faço gratuitamente esta analogia entre o romance e a vida real. Como todos sabem, Goethe fez este livro baseado em uma história verdadeira; a sua história mesclada com outra. A edição que tenho em mãos da L&PM Pocket possui um delicioso posfácio que detalha estes acontecimentos de uma maneira bem sucinta, vale a pena conferir. Não só por curiosidade, mas também para entender como foi feita a construção do romance, a maneira genial com que o autor transformou fatos corriqueiros em literatura de qualidade. É claro que quando escrevo fatos corriqueiros não me refiro ao suicídio de Karl Jerusalem, situação lamentável que serviu de mote para a obra.
Abaixo um link de uma versão digital do livro que já pertence ao domínio público:
Aos meus amigos...
ResponderExcluirAqui vai a resenha sobre um dos livros mais belos que já li...
Os sofrimentos do Jovem Werther de Goethe.
Espero que gostem!
http://regozijodoamor.wordpress.com/2013/05/13/resenha-os-sofrimentos-do-jovem-werther/